quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O elefante

Você já imaginou como é possível prender um elefante adulto a uma estaca que foi enterrada com poucas marteladas?

É uma questão intrigante, mas de resposta bastante simples. Desde que nasce o elefante é preso por uma corrente a uma estaca. Como ainda é pequeno não tem força para arrancá-la. A argola que fixa a corrente à pata do elefante tem esporas por dentro. Toda vez que ele tenta puxar a corrente as esporas fincam em sua pele ainda macia. A dor é grande e ele desiste.

Os anos passam. Ele se torna o animal mais forte sobre a terra. Sua pele agora é tão resistente que é impenetrável às esporas. Ele seria capaz de arrancar a estaca sem o menor esforço.
Mas, toda vez que começa a esticar a corrente, sente a argola, sente as esporas, os anos de dor, e desiste...

O elefante estará preso por toda sua vida...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Prefiro o inferno

O bispo Bartolomé de las Casas, da Ordem de São Domingos, em seu livro "Brevíssimo relato da destruição das Índias", conta a história de Hatuey, chefe indígena que reuniu seu povo na ilha de Cuba, após fugir do atual Haiti.

Os espanhóis, comandados por Diego Velasquez, chegaram a Cuba, em busca de ouro, em 1511. Hatuey e seu povo, ao verem tanta avidez, acreditaram que o ouro fosse um deus para os espanhóis e, no intuito de agradá-los, dançaram diante de uma cesta cheia destas riquezas. Ao perceber que a visão do ouro apenas instigara a crueldade contra seu povo, mandou ogar todo a riqueza que possuíam num lago. Hatuey acabou sendo preso e condenado à morte na fogueira.

No momento de sua execução, um padre franciscano aproximou-se para falar-lhe do deus dos cristãos e da fé católica. Explicou-lhe que se aceitasse a fé cristã iria para o céu, caso contrário, iria para o inferno. O chefe indígena pensou e perguntou se os cristãos que ali estavam também iriam para o céu. Como o padre confirmou, Hatuey optou em ir para o inferno. Não queria estar em companhia de pessoas tão cruéis (O MUNDO, 1991, p. 13).

domingo, 27 de setembro de 2009

Homenagem às mulheres (2)

Mas, meu favorito é...

Paulo

Poucos se atreveram a proferir palavras tão doces às mulheres:

Aquela que é verdadeiramente viúva e desamparada, põe em Deus a sua esperança e persevera, noite e dia, nas súplicas e nas orações. Aquela, porém, que se entrega aos prazeres, mesmo vivendo, está morta. I Timóteo 5:5-6

A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. Pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. I Timóteo 2:11-13

Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo. Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos. Efésios 5::22-24

A cabeça do homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem e a cabeça de Cristo é Deus. I Coríntios 11:3

O homem não deve cobrir a cabeça: porque ele é a imagem e o reflexo de Deus; a mulher, no entanto, é o reflexo do homem. Porque o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem. Nem o homem foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem. Por isso a mulher deve usar na cabeça o sinal de sua dependência, por causa dos anjos. I Coríntios 11: 7-10 

Como em todas as Igrejas dos santos, fiquem as mulheres caladas nas assembléias, porque não é permitido que tomem a palavra. Mas fiquem submissas como ordena a lei. E quando quiserem se instruir sobre alguma questão, perguntem a seus maridos em casa. É inconveniente para a mulher falar na assembleia. I Coríntios 14: 34-35

Todo domingo, em milhares de igrejas do mundo são lidos trechos das cartas de Paulo. Não sei quantas vezes ouvi cada uma delas, porém essas passagens são convenientemente deixadas de lado.

sábado, 26 de setembro de 2009

Homenagem às mulheres

As religiões sempre foram uma luz no caminho do homem, indicando como ele deveria tratar seu semelhante e principalmente as mulheres, mães irmãs e companheiras. Algumas pérolas:

A mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: Senhor, que desejais que eu faça? Zaratustra 

A mulher é má. Cada vez que se lhe apresente oportunidade, toda mulher pecará.

Está na natureza do sexo feminino tentar corromper os homens na Terra, e por esta razão os sábios jamais se abandonam às seduções das mulheres. Leis de Manu; Livro II Regra 213

Durante a infância, uma mulher deve depender de seu pai; durante a juventude, de seu marido; se este morrer, de seus filhos; se não tiver filhos, dos parentes mais próximos do marido e, na sua falta, dos de seu pai; se não tiver parentes paternos, do seu soberano; uma mulher não deverá nunca governar-se ao seu bel-prazer. Leis de Manu; Livro V Regra 148 

Mesmo que a conduta do marido seja censurável, mesmo que este se dê a outros amores, a mulher virtuosa deve reverenciá-lo como a um deus. Durante a infância, uma mulher deve depender de seu pai, ao se casar de seu marido, se este morrer, de seus filhos e se não os tiver, de seu soberano. Uma mulher nunca deve governar a si própria. Leis de Manu; Livro V Regra 154 

Acima de tudo, deve-se resguardar as mulheres das más inclinações, por pequenas que sejam; se as mulheres não fossem vigiadas, fariam a desgraça de duas famílias. Leis de Manu; Livro IX Regra 5

Deus disse também à mulher: eu multiplicarei os trabalhos de teus partos. Tu parirás teus filhos em dor, e estarás debaixo do poder de teu marido, e ele te dominará. Bíblia, Gênesis 3:16

Dai aos varões o dobro do que dai às mulheres. Corão, Cap. IV, vers. 11

Os homens são superiores às mulheres porque Alá outorgou-lhes a primazia sobre elas. Portanto, dai aos varões o dobro do que dai às mulheres. Os maridos que sofrerem desobediência de suas mulheres podem castigá-las: deixá-las sós em seus leitos, e até bater nelas. Não se legou ao homem maior calamidade que a mulher. Corão, Cap. IV, vers. 38

Não se legou ao homem calamidade alguma maior do que a mulher. Corão, Cap. XXIV, vers.59

A mulher é um vaso cheio de imundícies com sua boca cheia de sangue e entretanto todos a desejam. Talmud, Shabbath; 152 

A exata consciência de sua própria natureza deve evocar sentimentos de vergonha. Clemente de Alexandria, Paedagogus; II, 33, 2 

A mulher está em sujeição por causa das leis da natureza, mas é uma escrava somente pelas leis da circunstância… A mulher está submetida ao homem pela fraqueza de seu espírito e de seu corpo… é um ser incompleto, um tipo de homem imperfeito […] A mulher é defeituosa e bastarda, pois o princípio ativo da semente masculina tende à produção de homens gerados à sua perfeita semelhança. A geração de uma mulher resulta de defeitos no princípio ativo  Tomás de Aquino, Summa Theologica; Q92, art. 1, Reply Obj. 1

Por ser criatura deficiente, a mãe não sabe educar a criança tão bem quanto o pai sabe, porque ele tem mais capacidade intelectual e mais força e virtude para controlar os filhos. Tomás de Aquino, Summa Contra Gentes; III; 122  

O pai deve ser amado mais do que a mãe porque ele é o princípio ativo da geração enquanto a mãe é apenas o princípio passivo. Tomás de Aquino, Summa Contra Gente; II/II; q. 26; a. 10. 

A mulher, para aqueles eclesiásticos, não tem o mesmo valor do homem: ela está sempre colocada, pela própria natureza, em alguns graus mais abaixo. Este é o motivo, segundo Tomás de Aquino, pelo qual a mulher não pode receber as ordens sagradas: não pode ser ordenada sacerdote. Tomás de Aquino, Summa Theologica; Suppl. q. 39; a.l. 

O corpo da mulher não é forte, e a sua alma é ainda mais fraca, no sentido comum. Assim é um assunto sem importância que o Senhor coloque uma selvagem ou civilizada ao nosso lado. A mulher é meio criança. Aquele que toma uma mulher deveria considerar-se como o guarda de uma criança... ela é semelhante a um animal caprichoso (ein tolles tier). Reconhecei a sua fraqueza. Se nem sempre passeia por caminhos direitos, guiai a sua fraqueza. Uma mulher permanece eternamente mulher.Martinho Lutero, Weimar; Vol. XV. p. 420

Se a mulher não quiser, deixemos vir a criada. O Marido tem que somente deixar ir Vasti e tomar uma Ester como o rei Assuero. Martinho Lutero, De Wette; Vol. X. p. 290. 

E se a esposa reclamar, o marido deve responder à admoestação: Vá para o diabo.. Martinho Lutero, De Wette; vol. III. p. 222 

Não há manto nem saia que pior assente à mulher ou donzela que o querer ser sábia. Martinho Lutero

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Kissing Hank's Ass

Versão com legendas em português para o video "Kissing Hank's Ass". Ótima sátira ao dogmatismo religioso e também uma alfinetada nos crentes que batem de porta em porta.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Livro pornográfico

Você deixaria seu filho de, digamos, 7 anos ler um livro onde: 

Duas filhas embriagam e seduzem o pai porque não existem homens onde moram? 

Um filho exige a herança do irmão faminto em troca de um prato de comida e para enganar o pai moribundo, com a ajuda da mãe, se disfarça no primeiro? 

Um homem se casa com sua meia-irmã. Para garantir sua segurança e em troca de dinheiro, ele a apresenta como se fosse sua irmã e a entrega como amante ao líder político local? 

Quando eles fogem, por sua mulher ser muito velha, ele tem um filho com a empregada? 

Quando sua esposa, apesar da idade avançada, finalmente engravida, ele expulsa a empregada e seu primeiro filho de casa? 

Quando esse velho começa a ouvir vozes, ele tenta assassinar seu filho? 

Milhares de crianças inocentes são mortas para que um grupo obtivesse liberdade? 

Um irmão assassina o outro por inveja? 

Um pai bêbado amaldiçoa a descendência de seu filho para que sejam servos da descendência de seus outros filhos, justificando o racismo.?

Um rei deixa seu general morrer desamparado no campo de batalha para poder desposar sua mulher? 

Você sabe que livro é esse? 

Gênesis 19:30-38 

Gênesis 25:30-34 e Gênesis 27:5-35 

Gênesis 12:11-20 

Gênesis 16:1-4 

Gênesis 21:14-15 

Gênesis 22:1-10 

Êxodo 12:29-40 

Gênesis 4:1-8 

Gênesis 9:25

II Samuel 11: 15 

(Para quem acha que todos esses atos foram cometidos pelos piores persongens do livro, enganou-se. Todos os protagonistas dos trechos citados são modelos de conduta e de homens de fé)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Péssima notícia aos crentes

Não há religião que não pregue que fazer o bem é uma condição para conquistar a vida eterna. Pode até haver alguma discussão entre o que é fazer o bem e o que não é, mas num ponto todas concordam, o único jeito de obter as delícias do paraíso é, nesta vida, fazer o bem.

Obedientes e esperançosos, crentes fazem o bem, efetivando, assim, o maior argumento (autoproclamado e falacioso) em favor das religiões.

Mas nesse ponto sempre me ocorre uma pergunta: se deus é tudo isso que eles falam, quem de fato deve ir para o céu? Alguém que sempre que efetuou o bem, o fez muitas vezes a contragosto, simplesmente porque essa era a condição para obter as maravilhas do paraíso? 

Ou alguém que, se foi bom, sempre o foi sem esperar nenhuma recompensa, por mera abnegação?

Uma pessoa sincera procura o bem pelo bem, sem se preocupar com a justiça divina. Ser bom para fugir da punição capital é apenas uma resposta à chantagem e não exatamente um comportamento ético.

Quem deve, então, ir para o céu, um ateu altruísta ou um crente interesseiro?

Péssima notícia aos crentes: Somente ateus vão para o céu (ou somente mais uma contradição da religião?)

A natureza cristã de nosso povo

Para aqueles que defendem a natureza cristã do nosso povo:

o primeiro bispo do Brasil, dom Pedro Fernandes de Sardinha, foi devorado pelos primeiros brasileiros, os caetés

(como consequência, os caetés foram extintos em uma "guerra santa" determinada pelo governo português e apoiada pela igreja)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Estado laico

Uma das coisas que mais incomodam os ateus é o fato de o Estado brasileiro ser laico mas manter práticas religiosas nos espaços públicos. Na Câmara Municipal de Belo Horizonte, a sessão ordinária é aberta com uma quase-oração: "sobre a proteção de Deus e em nome do povo de Belo Horizonte, declaro aberta a sessão", repete diariamente o presidente da casa.

Seguindo a mesma lógica religiosa (sic), repartições públicas, postos de saúde e salas de audiências judiciais mantêm símbolos em suas paredes e em todas as notas da moeda brasileira está escrito "Deus seja Louvado". O movimento Brasil para Todos pede o fim desse tipo de prática. No site do movimento é possível encontrar a justificativa: "A presença dos símbolos religiosos em repartições públicas viola um dos princípios básicos das democracias modernas, que é o da separação entre Igreja e Estado".

Exigir obediência a Constituição Federal em nosso país é piada. Em seu artigo 19 indica que  o estado é laico, mas no preâmbulo expressa que os representantes do povo brasileiro agiram sob a proteção de deus. Vai entender o que de fato aconteceu naquela constituinte.

Os tribunais foram desobrigados de retirar os crucifixos em sentença proferida pela juíza Maria Lúcia Lencastre Ursaia, da 3ª Vara Cível Federal de São Paulo,. Segundo a magistrada, “a laicidade prevista na Constituição veda à União, Estados, Distrito Federal e Municípios estabelecerem cultos ou igrejas, subvencioná-las, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com elas ou seus representantes relação de dependência ou aliança, previsões que não implicam em vedação à presença de símbolos religiosos em órgão público”, mostrando que ela não lê jornais, ou finge que não lê, ou é católica mesmo.

Então, se não podem ter alianças, o que são os símbolos católicos? Decoração? Eu preferia um quadro de Monet.

Eu reconheço que o fato de olhar para um crucifixo não torna ninguém cristão (o mais apropriado seria católico). Sua presença é meramente intimidatória, lembrando aos juízes nos tribunais  o ônus de suas decisões e aos parlamentares nas assembleias que se desagradarem a religião estabelecida, provavelmente não serão reeleitos.

Ainda na Constituição Federal, sociedades religiosas não pagam impostos (renda, IPTU, ISS etc...) e recebem subsídios financeiros para suas instituições de ensino e assistência social. O ensino religioso faz parte do currículo das escolas públicas, que privilegia o cristianismo e discrimina outras religiões, assim como discrimina todos os não crentes. O artigo 150 da Constituição proíbe a criação de impostos federais, estaduais e municipais sobre "templos de qualquer culto".  Santa laicidade.
 
Em um momento de lucidez, em 2006, em uma ação inédita, o Ministério Público obrigou a Universidade de São Paulo (USP) a retirar um crucifixo colocado na sala de espera da clínica odontológica após receber queixa de uma pessoa incomodada com o objeto. Um detalhe, o reclamante não era ateu, mas evangélico.

Argumentos (religiosos adoram argumentos) para o avanço sobre o Estado defendem que a grande maioria da população é católica, que o país tem uma formação católica, que os valores do catolicismo estão na alma do nosso povo e (se tudo o mais falhar) que deus é brasileiro (coitado)

Essa apologia de fazer valer o direito da maioria me apavora. Não por sua orientação eminentemente nazista, mas por sua burrice. Todos nós somos minoria em alguma coisa, e aí queremos ter nosso direito preservado.

Quer um exemplo?

Há tantos corintianos (cerca de 15 milhões, segundo o Datafolha) quanto católicos no estado de São Paulo. Há tantos flamenguistas (cerca de 13 milhões, segundo o Ibope) quanto católicos no estado do Rio de Janeiro.

Como você se sentiria se trocassem o imponente crucifixo de tribunais e da Assembleias Legislativa do estado por um escudo do Corinthians? Os escudos do Timão em São Paulo e do Mengão no Rio representam o anseio de uma parcela mais significativa da população que o crucifixo.

E se na notas de Real passasse a vir escrito “Todo Poderoso Timão” ou  "Uma Vez Flamengo..."?

E se você tivesse de cantar o hino do Corinthians antes de começar sua aula, ou antes de um dia de trabalho numa certa rede de lojas?

Corintianos e flamenguistas adorariam. São maioria. Mas é para isso que a sociedade existe, impor a vontade da maioria? Constranger qualquer um que pense diferente?

Corintianos, flamenguistas, torcedores de todos os times, até os tricolores, tem todo o direito de se reunir para torcer, comemorar, criticar, vaiar e até xingar seus times. Mas não podem impor esses atos a toda sociedade.
No futebol, membros de nossa sociedade são livres para escolher para quem torcer, sem constrangimento. Vamos dar um passo além e estender esse direito a (des)crença religiosa.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma gota de lucidez

Dr. Drauzio Varella expõe sua relação com a religiosidade e como vê o episódio da excomunhão dos médicos que participaram do procedimento para interromper a gravidez em uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto.


Se existe um deus...

Muitas pessoas, pelo menos muitas que eu conheço, ao se depararem com a contradição de suas superstições têm um argumento 'infalível' na ponta da língua:

"Sem deus a vida não teria sentido."

Essas pessoas longe de revelarem um espasmo de lucidez, conseguem mostrar o quão eficiente foi a lavagem cerebral que receberam durante toda sua vida, lavagem essa que faz com que essas pessoas apresentem a própria contradição religiosa como argumento.

E se existe de fato um deus?

Se existe um deus, então a vida não tem nenhum sentido. Quem tem sentido é deus e o nosso sentido provém dele. Não somos mais do que suas cobaias, manipulados daqui pra lá, correndo como hamsters naquelas rodinhas, ignorantes de seus verdadeiros propósitos. Ao seu bel-prazer, somos mortos, escravizados, santificados, até mesmo queimados em fogo eterno, quando falha o experimento.

Se existe um deus, então todos os esforços da humanidade para se entender e se auto-gerir, toda a ciência, toda arte e toda a filosofia, de nada valem, pois podem ser mudados em um segundo.

Se existe um deus, então não existe ética ou moralidade: somente adequação ou não às regras impostas pela divindade.

Se existe um deus e temos o livre-arbítrio, então o arbítrio de livre não tem nada, é uma dádiva da qual só desfrutamos porque nos foi concedida e pode ser tirada tão facilmente quanto.

Se existe um deus, então não vale a pena fazer nada, pois nada faz sentido.

Ateus são acusados de serem niilistas, o que não poderia estar mais longe da verdade. Nada pode ser mais niilista que se submeter a uma ideia, e uma péssima ideia, que prega a anulação daquilo que torna o homem algo maravilhoso.

domingo, 20 de setembro de 2009

Religiões se unem no Rio para pedir liberdade e tolerância

Rio de Janeiro, 20 de setembro (EFE) Milhares de pessoas se reuniram hoje na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, em uma caminhada contra a intolerância e pela liberdade religiosa que, em uma demonstração de integração, reuniu seguidores de diferentes credos. 

Católicos, evangélicos, judeus, muçulmanos, budistas e hinduístas se juntaram na 2ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que também contou com a participação de muitos ciganos, além de seguidores do movimento Hare Krishna e de religiões de origem africana, como o candomblé e a umbanda.

"Ainda sofremos, como em todo o mundo. No Brasil, como a mistura é muito grande, há um pouco mais de tolerância, mas ainda há muito preconceito e discriminação", disse à Agência Efe o fundador e presidente da União Cigana do Brasil, Mio Vacite.

A mobilização percorreu a orla da praia de Copacabana ao som de tambores e cânticos africanos que deram um toque festivo à marcha. Capoeiristas também participaram do ato, junto com representantes de outros movimentos como os bahai, os Filhos de Gandhi e espíritas, entre outros.

Segundo os organizadores, delegações de países como Angola, Argentina, Congo, Nigéria, Paraguai e Uruguai também estiveram presentes na manifestação.

A caminhada foi convocada para defender a paz e a tolerância religiosa, e em repúdio a demonstrações de intolerância sofridas recentemente por praticantes de crenças como a umbanda.

Além disso, algumas organizações muçulmanas denunciaram o tratamento discriminatório que, segundo afirmam, sofrem em locais como postos de controle dos aeroportos.

Na manifestação, o ministro de Igualdade Racial, Edson Santos, tomou a palavra e ressaltou o trabalho que o Governo tem feito para assegurar a igualdade religiosa no país.

"Estamos criando o Programa Nacional de Proteção e Promoção das Religiões de Matriz Africana em nosso país", disse o ministro. (Fonte: EFE)

As origens da prisão religião

Não é difícil escrever sobre prisão religião. O assunto praticamente se escreve sozinho. Quem duvidar do poder nocivo das religiões sobre a liberdade humana basta ler qualquer livro de história escrito nos últimos dois mil anos. Quem quiser ficar apavorado basta ler um livro religioso.

O mais interessante é que essa sequencia de atrocidades desponta de um fato praticamente insignificante. Um momento em que a religião deixou de ser  uma questão de sacrifício pessoal para se tornar o mais impiedoso senhor escravagista da história.

Na antiguidade, os politeístas podiam ter todos os defeitos do mundo, brigavam por qualquer coisa, desde um pedaço de terra até o rapto de uma rainha gostosona, mas nunca travaram guerras religiosas. O deus carteiro de um era tão bom quanto o deus leiteiro do outro. Se o povo do deus bolinha de gude ganhasse uma guerra contra o povo do deus clipes de papel, esse último rapidamente concluía que o deus clipes de papel não era de nada, abraçava o deus bolinha de gude sem pensar muito e a vida prosseguia bela.

Até que um certo povo do deserto se recusou a adotar a religião do conquistador e disse: sua vitória sobre nós não quer dizer que o seu deus, que nem existe, derrotou o nosso, que é o único; quer dizer que o nosso deus, que é único, está nos punindo por algo que fizemos mas, mesmo assim, escravos e subjugados, nós acreditamos que ele nos ama e nós o amamos de volta.

Com essa vitória do self-denial sobre a lógica mais rasteira, começa a história do monoteísmo, e da escravidão religiosa.

Se, cada vez que esbarravam na dificuldade de entender o que os deuses estavam fazendo, os politeístas tinham a possibilidade de inventar um novo deus para explicar para qualquer coisa, os monoteístas inventaram algo ainda mais espetacular, tão espetacular quanto mentiroso e canalha. Os monoteístas tinham a soberba de conhecer qual era a vontade de deus.

Isso era maravilhoso!. Sem ao menos saber ler uma linha, você podia ouvir de alguém, que ouviu de alguém, que ouviu de alguém, que ouviu de alguém, que ouviu direto do próprio deus, tudo o que era certo e errado, com detalhes do tipo coma isso, não coma aquilo, mate esse, não mate aquele, transe com essa, não transe com aquela e assim por diante.

A partir desse momento, acaba qualquer discussão, afinal tínhamos alguém que conhecia a vontade de deus. E imagine os privilégios que daríamos de bom grado àqueles que conheciam e eram encarregados de divulgar essa vontade.

Quase posso ouvir os grilhões sendo forjados sob estas palavras.

sábado, 19 de setembro de 2009

Ateus, saiam do armário!

Postagem original de Idelber Avelar em O Biscoito Fino e a Massa

O Biscoito Fino e a Massa combate as falsas simetrias desde outubro de 2004. Outro dia, numa mesa de bar, tive que ouvir a velha história de que “machismo” e “feminismo” são duas coisas idênticas; de que as mulheres deveriam abandonar essa história de feminismo porque ... afinal de contas, somos todos seres humanos! Uma amiga querida, feminista, encarregou-se de explicar o óbvio: que o machismo é a justificativa ideológica de uma opressão milenar, que subjuga as mulheres, relega-as à condição de serventes, e que o feminismo representa a luta por uma sociedade em que todos tenhamos os mesmos direitos-- uma sociedade em que as mulheres possam, por exemplo, legislar sobre seu próprio útero. Daí, a conversa da nossa interlocutora descambou para a discussão do racismo, onde ela de novo repetia a ladainha de que uma camisa 100% negro e uma camisa 100% branco representavam coisas igualmente reprováveis, como se não tivesse havido aquele pequeno detalhe chamado escravidão.

Está em curso uma perigosa tendência a silenciar os ateus. O argumento -  calhorda, cafajeste, ignorante -  que cada vez que um ateu sai do armário, se assume como tal e começa, a partir dali, a articular publicamente suas razões para ser ateu, ele está repetindo, mimetizando, reproduzindo a doutrinação evangélica com a qual somos bombardeados todos os dias. Cada vez que os ateus começamos a falar publicamente sobre essa mais óbvia e razoável das escolhas vem alguém nos acusar de ... estar querendo evangelizar os outros!

Dá pra imaginar uma simetria mais falsa?

Uma pesquisa recente, da Fundação Perseu Abramo, mostra que os ateus representamos o grupo social mais discriminado socialmente. Mais que negros. mulheres, travestis, gays, lésbicas. Mais, até mesmo, que transsexuais. Eu não estou dizendo que a discriminação cotidiana que sofre, por exemplo, um ateu branco, é comparável à que sofre um negro de qualquer crença. Não é. Não é, em primeiro lugar, porque ser negro e, até certo ponto, ser gay, são coisas impossíveis de se esconder. Ser ateu, não. Mas se você perguntar a um brasileiro em qual membro de grupo social ele não aceitaria votar de jeito nenhum, os ateus estamos, disparados, em primeiro lugar. Vivemos ainda nesse estranho regime que associa a moralidade à crença religiosa, como se existisse alguma relação entre religiosidade e comportamento moral, como se não soubéssemos nada sobre a lambança feita pelos padres com as crianças e adolescentes – para não falar dos séculos de lambança obscurantista e anticientífica promovida pelas religiões

A crítica que ouço por aí a Richard Dawkins – que ele está liderando um movimento ateu que tem caráter evangelizante, doutrinador, e que portanto ele acaba se parecendo a um crente – é de uma burrice digna de um cristão. Nós passamos séculos em que os ateus não tínhamos sequer o direito de falar na esfera pública enquanto tais. Nós vivemos num mundo onde professores são despedidos por serem ateus; adolescentes recebem suspensão na escola por serem ateus; políticos que se declaram ateus têm pouquíssimas chances de serem eleitos. Essa mais razoável e óbvia das conclusões filosóficas – a de que o mundo não foi criado por nenhum ser onipotente – ainda é motivo de perseguição severa para qualquer um que a abrace.Entendam o ponto de vista d' O Biscoito Fino e a Massa sobre isso: tem que respeitar religião porra nenhuma. Tem que acabar com essa história de que, todas vezes que apontamos a misoginia, a homofobia, os estupros de crianças, a guerra anticiência, os séculos de lambança obscurantista, sempre aparece alguém para dizer "ah, tem que respeitar minha religião".

Ideias não foram feitas para serem "respeitadas". Ideias foram feitas para serem debatidas, questionadas, copiadas, circuladas, disseminadas, combatidas e defendidas, parodiadas e criticadas. De preferência com argumentos. Seres humanos merecem respeito. Pregação contra o que seres humanos são, por sua própria essência e identidade (gênero, raça, orientação sexual) não pode ser confundida com sátira antirreligiosa. A maioria dos carolas adora confundir sátira antirreligiosa com ataque misógino ou homofóbico. Não entendem que sua superstição é, essa sim, uma opção.

As três famílias que chamo de minhas – a sanguínea, a de meu amor e a da mãe de meus filhos, todas elas majoritamente católicas – são testemunhas de que jamais invadi um ritual religioso deles para fazer sátira, questionar o que quer que seja ou tentar converter quem quer que seja. O ritual acontece no espaço privado – que é onde ele tem o direito constitucional de acontecer – sem que eu jamais o desrespeite. Mas isso não é porque eu “respeito a religião”. Isso é porque eu os respeito, como pessoas. Tenho a opção de acompanhar o ritual em silêncio ou afastar-me porque, afinal de contas, são três famílias maravilhosas.

Entendam: o debate na esfera pública são outros quinhentos. E, neste debate, nós chegamos para ficar.

Ateus, saiam do armário.. Sem medo. É muito melhor

O Bule Celeste


O Bule de Chá Celeste é uma analogia criada pelo filósofo Bertrand Russell (1872–1970), para refutar a ideia que a dificuldade de desmentir um fato não torna este verdadeiro. Num artigo chamado "Existe um Deus?" Russell escreveu:

    "Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez dos dogmáticos terem de prová-los. Essa ideia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá de porcelana girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade e levaria o cético às atenções de um psiquiatra, numa época esclarecida, ou às atenções de um inquisidor, numa época passada.".